Ivo Pitz
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Momento Histórico do Pré-Modernismo

As viradas de século, normalmente, são conturbadas. No Brasil vários fatos marcaram os últimos anos do século XIX e os primeiros do século XX. A “libertação” dos escravos em 1888, a proclamação da República em 1889 foram fatos marcantes. O primeiro, porque jogou um número sem fim de pessoas na miséria de fato; o segundo, porque encontrou resistências que foram, todas elas, massacradas. Outros fatos: a Guerra de Canudos (1896-97); a Revolta da Vacina (1904); a Revolta da Chibata (1910); a Revolta da Armada (1894); a Guerra do Contestado (1912-1916)...
Além desses, outro fato importante se desenrolava: a incipiente industrialização criava novos aspectos: o Brasil rural (grande maioria) e o Brasil urbano (grande minoria). O campo começava a se impor através dos latifúndios (agropecuária). Na cidade aumentava o número de operários (em S. Paulo acontecem greves em 1917-1919).
A própria visão de mundo e de vida começava a ser questionada e a mudar. Valores são questionados; há ainda a influência cultural européia, principalmente da França.
Dentro deste contexto de mudanças, (República, revoltas etc), era necessário buscar não apenas novos valores, mas também novas formas de encarar e tentar mudar a realidade. Os mais diversos campos da Arte (música, escultura, pintura, literatura) buscavam novos tempos.
O Pré-Modernismo é a etapa de transição entre a tradição literária (séc. XIX) e sua ruptura radical que inaugura o Modernismo (séc. XX). O início considerado oficial do Pré-Modernismo é 1902, quando foi publicada a obra “Canaã”, de Graça Aranha e “Os Sertões”, de Euclides da Cunha. O fim é a Semana de Arte Moderna, em fevereiro de 1922.
Principais autores pré-modernistas
Na Poesia, o principal expoente é Augusto dos Anjos. Sua poesia contém elementos aceitos universalmente como modernos.
Na Prosa há mais autores que se preocupam coma realidade brasileira e procuram, além de criticar, apontar caminho para o desenvolvimento.
1 – Augusto dos Anjos – 1884-1914. Nasceu e viveu na Paraíba, no Engenho de Pau d’Arco, vendido pela família, por causa da crise açucareira no Nordeste. Apesar de formado em Direito, foi professor a vida toda. Publicou poemas em jornais. Sua obra “Eu” foi publicada em 1912. Morreu de pneumonia aos 30 anos.
Os poemas de Augusto dos Anjos, no início, não foram aceitos e sofreram fortes críticas. Seus versos contêm vocabulário pouco comum, cientificista. Há poemas com características parnasianas e simbolistas. Sua poesia derruba os sonhos românticos, trabalha com a fatalidade da morte. Tem uma visão mais realista do homem e da vida humana.
2 – Euclides da Cunha – 1866-1909. Nasceu em Cantagalo – RJ. Por ter ficado órfão de mãe aos 3 anos, foi levado a morar com os avós em Salvador – Ba. Ao voltar ao Rio, começou a publicar artigos em jornal estudantil. Em 1885 começou o curso de Engenharia. No ano seguinte foi para a Escola Militar da Praia Vermelha(onde os alunos aprendiam engenharia militar).
Em 1888, com outros colegas cadetes, resolvem participar de uma manifestação pela República. O ministro da Guerra, sabendo disso, marcou uma solenidade dentro da escola para o mesmo dia e horário. Euclides, em repúdio, quebrou o sabre diante do ministro (Há autores que dizem que ele jogou o sabre no chão, diante do ministro). Por isso teve que sair do Exército. Voltaria a integrá-lo com a República, saindo definitivamente em 1896.
Apesar de engenheiro e bacharel em Matemática e Ciências Físicas e Naturais, tornou-se jornalista e literato. Em 1897 trabalhava para o jornal “A Província de S. Paulo”, atual “O Estado de S. Paulo”. Foi mandado como correspondente para o interior da Bahia, onde supostamente estaria havendo um levante monárquico. Foi o grande trabalho de sua vida.  Euclides acompanhou a última expedição. O que ele viu em Canudos foi dantesco. Achou que seria pouco fazer apenas os relatos de guerra. Começou, então, a gestar a grande obra que o consagraria. Segundo ele, Canudos merecia mais que um relato. Fez um estudo sobre as condições adversas da terra do Nordeste, com suas secas, seus latifúndios e o domínio de poucos sobre muitos. Estudou a gente do Nordeste. Pobre, inculta, explorada até o extremo. Canudos foi apenas a busca da "terra prometida". E, por último, descreve a luta. Seu livro veio a público em 1902, dividido em três partes: A Terra; O Homem; A Luta.
3 – Lima Barreto – 1881-1922. Nasceu no Rio de Janeiro. Mestiço de origem humilde. Estudou no Colégio Pedro II e na Escola Politécnica. Abandonou os estudos por problemas financeiros(depois que morreu seu tutor). Trabalhou como jornalista e funcionário público. O alcoolismo o levou à morte prematura em 1922, no Rio de Janeiro.
Suas obras revelam as classes populares e o desmascaramento da pequena burguesia. Ironiza políticos da época. A linguagem é bem simples, em oposição à retórica parnasiana. Deixou, através de obras, um retrato do Rio de Janeiro da época.
Obra – “Recordações do Escrivão Izaías Caminha”. Denuncia o preconceito racial, a mediocridade e a falsidade.
Numa e Ninfa”. Segundo alguns críticos, é o mais belo poema em prosa que já se escreveu sobre o Rio de Janeiro, na descrição de sua vida urbana e suburbana.
Triste Fim de Policarpo Quaresma”. É uma obra que aborda a dificuldade de se conseguirem mudanças no poder público. Narra a vida de um modesto funcionário publico, em três estágios diferentes, que correspondem mais ou menos às três partes em que se divide a obra. A primeira parte relata sua vida como funcionário publico; a segunda como proprietário rural; a terceira como soldado voluntário na Revolta da Armada de 1893.
Policarpo Quaresma é um sonhador, um idealista e acima de tudo um patriota; tudo está traduzido em sua vida simples e em seus costumes. Em casa, viva cercado de muitas obras literárias.
A obsessão patriota, fizera levá-lo à prepotência de solicitar, através de uma carta, a mudança da língua, para a verdadeira língua pátria, o Tupi-Guarani. Com este pedido, nosso patriota foi considerado como insano, tendo que enfrentar um tratamento num manicômio.
Os Bruzundungas
Clara dos Anjos
As Aventuras do Dr. Bogoloff”.
4 – Monteiro Lobato – - 1882-1948. Nasceu em Taubaté - SP. Foi escritor, editor, diplomata, industrial e fazendeiro. Estudo Direito em São Paulo. Mudou-se para a capital em 1918, quando iniciou a vida de editor. Neste ano comprou a "Revista do Brasil", fundou a Editora Monteiro Lobato e publicou "Urupês". É um livro de contos e num, chamado "Urupês", cria Jeca Tatu, o caipira interiorano, imortalizado nas telas de cinema por Amácio Mazzaroppi. Em 1924, devido a problemas de energia, sua editora faliu. No ano seguinte, com amigos, fundou a Comapnhia Editora Nacional. De 1927 a 1931 viveu nos Estados Unidos da América, exercendo o cargo de adido comercial brasileiro. Ao voltar, convencido da necessidade de modernização do Brasil, entregou-se , de corpo e alma, à tarefa de explorar petróleo e ferro no subsolo brasileiro. Fundou sua própriao Companhia de Petróleo. Ao denunciar , numa carta aa Presidente Getúlio Vargas, que o Governo estaria fazendo manobras contra seu trabalho, foi preso por ordem do Presidente. Depois de solto (após 3 meses na prisão), dedica-se novamente aos livros. Sua persistência fez dele um reconhecido lutador pelas causas do Brasil. (Em junho de 1942 seria criada a Compqnhia Siderúrgica Nacional, encarregada da exploração do ferro. Em 03 de outubro de 1953 seria criada a Petrobrás, encarregada de explorar o petróleo brasileiro).

Obras: Urupês; Reinações de Narizinho; As Caçadas de Pedrinho; Memórias de Emília; O Poço do Visconde; Os Serões de D. Benta; O Picapau Amarelo; CidadesMortas; Idéias do Jeca Tatu; e outras.
 URUPÊ - cogumelo, também conhecido como orelha de pau. Ele se produz em troncos de árvores e vive de sua seiva e tronco. É uma alusão à figura do Jeca Tatu, criada no conto chamado Urupês. Foi tomado por Monteiro Lobato como referência ao personagem Jeca Tatu, imagem do caipira que vive à margem da História e da cidade grande, sempre de cócoras, sentado sobre o próprio calcanhar, regido por um mínimo de movimentos, pela lei do menor esforço. Os contos do livro Urupês contam histórias caipiras engraçadas e dramáticas.